domingo, 4 de novembro de 2012

IMPRESSÕES DE UM VETERANO

IMPRESSÕES DE UM VETERANO
O dia amanheceu nublado e com temperatura amena, embora sentindo a ausência de uma maior insolação (o que daria maior disposição), parto para a prova do ENEM! Eu e meu filho. Sim, mesmo depois da já ter passado dos 50 ainda encontro ânimo para novos desafios!
Meu garoto buscando se redimir do fato de ter abandonado seu curso de Letras no último ano e eu, apesar de já possuir uma graduação, busco na pontuação da prova um acréscimo na nota do vestibular que irei prestar no próximo mês para uma vaga no curso de Direito; meu sonho, aliás, de muitos anos.
O transito até as proximidades do centro flui tranquilo, porém, ao adentrar a Santos Dumont complica um pouco. Aproveito que estou adiantado em relação ao horário do início da prova para quitar uma mensalidade do famigerado, mas infelizmente necessário plano de assistência funerária, e também uma prestação das ultimas roupas adquiridas no tradicional centro de compras de Ponta Grossa; empresa que, por sinal, faz parte da história recente dos Campos Gerais.
Cumprido esses deveres inadiáveis, rumamos para o local da “sangria”: o bom e velho Colégio Regente Feijó. É cedo ainda, dá tempo de sentar num dos bancos da praça sob a sombra das velhas e frondosas árvores onde pombos, pardais, sabiás e outras espécies arrulham, chilreiam e gorjeiam alegremente.
Enquanto conversamos sobre amenidades aproveito para observar os transeuntes e frequentadores da “Barão do Rio Branco”; identifico um individuo de má aparência e, ao que parece de más intenções, que circula por ali aparentemente em busca de uma vítima para sabe-se lá o que.
A viatura policial que estava estacionada sobre a calçada em frente ao colégio saiu logo quando da nossa chegada ao local, dessa forma não existe segurança nenhuma no perímetro da praça, fato que pode favorecer a malandros e oportunistas em seus intentos contra o cidadão.
O senhor José Joaquim da Silva Xavier esta lá, num dos lados da praça, imponente apesar da corda sobre o seu pescoço, e na base do pedestal a frase que se tornou imortal: “Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria”. Fico pensando se a grande maioria dos jovens que participará do exame tem consciência da importância da imolação daquele brasileiro para a história do país.
Chega a hora do sacrifício, adentramos o velho colégio, a movimentação de garotos e garotas é intensa, os fiscais estão por toda parte orientando e direcionando os candidatos, porém alguns, marinheiros de primeira viagem, estão mais perdidos que os meninos não sabendo sequer indicar a numeração das salas. Parecem estar ali somente para ganhar uns trocados extras no final de semana.
Quando chego ao local onde irei torrar meus neurônios, ele já se encontra tomado pela maioria dos concorrentes e com alegria percebo agora mais claramente que não são só jovens que estão ali, mas também gente acima dos 30 e até dos 40 anos. Sinal dos tempos! Percebe-se que a necessidade imperiosa de se escolarizar começa a surtir efeito entre a classe mais madura da população.
Apesar da natural apreensão por encarar o novo e o diferente, a idade e experiência de vida me deixam muito mais tranquilo do que a maioria e dessa forma enfrento essa nova peripécia como mais um degrau a ser vencido na escada da vida. O tempo para resolução das questões nessa primeira etapa é de 4 horas e meia; três horas depois de iniciado, entrego meu cartão de respostas e o caderno de questões e saio da sala com a sensação de haver cumprido com o meu dever.
Talvez não tenha me saído tão bem quanto espero, mas nem tão mal quanto possa ter pensado que seria. Aprendi através de uma antiga citação que: mais valem as lágrimas da derrota do que a vergonha de não haver lutado, e assim volto para o aconchego do meu lar cansado, com um pouco de dor de cabeça pelo esforço de raciocínio, mas satisfeito por poder mais uma vez ter colocado em prática tudo que a vida e a escola me ensinaram nesses meus cinquenta e poucos anos.

Eliomar Pupo
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa
servidor público na UEPG.
e-mail: eliopupo@gmail.com